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Resumo:

Todo o projecto começa com uma necessidade.

Ao longo da execução do projecto, mudanças aparentemente insignificantes podem ter efeito profundo sobre o resultado final.

Dai a necessidade imperiosa de implementação de técnicas de gestão de projectos para um melhor controlo e garantia de sucesso do projecto.

Neste artigo serão ilustradas as fases de um projecto de sistemas espaciais com base no padrão europeu ECSS-M-ST-10C Rev.1 e o seu enquadramento com base nas fases e metas do projecto de construção e lançamento do satélite angolano ANGOSAT-2.

Palavras Chave: Gestão de Projectos, Fases de Projectos Espaciais, Ciclo de Vida.

  1. Conceitos

Definição de um Projecto

Um projecto é um conjunto de actividades coordenadas e interrelacionadas que procuram cumprir um determinado objectivo específico, num período de tempo e custos bem definidos.

Gestão de Projectos

Entende-se Gestão de Projectos como sendo, processos, conhecimento, habilidades e técnicas 

para elaboração de actividades relacionadas a um conjunto de objectivos pré-definidos.

A área de conhecimento inclui integração, escopo, custo, tempo, qualidade, recursos humanos, comunicação, riscos, aquisições (compras).

De acordo ao Instituto de Gestão de Projectos (PMI) [1], os cinco (5) grupos de processos são:

  • Iniciação;
  • Planeamento;
  • Execução;
  • Monitoramento e controlo;
  • Conclusão.

Sistemas Espaciais

Um Sistema Espacial pode ser definido como um conjunto de componentes que interagem de forma organizada para a realização de uma missão espacial definida [2] [3].

Estes componentes estão divididos em segmentos, sendo os principais:

  • Segmento de Lançamento: Composto pelo veículo lançador e a infra-estrutura de lançamento;
  • Segmento Espacial: Composto pela Carga útil e pela Plataforma do Satélite;
  • Segmento Terrestre: Composto pelos sistemas de monitoramento, controlo, comunicação, que permanecem na terra e interagem com os sistemas a bordo do segmento espacial (Satélite);
  • Segmento do Usuário: Define-se como todos os usuários dos serviços disponibilizados pelo segmento espacial.
  1. Fases do Projecto de Sistemas Espaciais

A estruturação de projectos espaciais em fases, advém da própria lógica de desenvolvimento de empreendimentos que tenham por objectivo a 

concepção, o desenho, a construção e a utilização de produtos complexos. 

As fases do desenvolvimento de Projectos de Sistemas Espaciais com base no padrão ECSS-M-ST-10C-Space Project Management, Project Planning and Implementation (ECSS, 2009) [3], estão descritas na figura 1 abaixo.

Figura 1 – Principais elementos constituintes do ciclo de vida de um projecto na área espacial, baseado no padrão ECSS-M-ST-10C (ECSS, 2009) [3].

No final de cada fase, é realizada uma reunião formal de revisão entre o cliente e o fornecedor dos processos envolvidos, onde o principal objectivo é detectar eventuais deficiências, erros ou omissões nos trabalhos e gerar recomendações para correcções. As recomendações e avaliações provenientes das revisões são analisadas pelo cliente e posteriormente geram acções correctivas ou preventivas que depois de serem consolidadas em relatórios são incluídas nos registos dos projectos, e poderão ser utilizados no futuro. É importante observar que as fases do ciclo de vida ocorrem para o projecto como um todo e podem se repetir para cada um dos subsistemas e componentes resultantes da estrutura de divisão do trabalho.

A seguir, são descritas com algum detalhe as diversas fases de um projecto espacial [2].

  • Fase 0 – Análise da Missão

Nesta fase, a equipa responsável pelo início do projecto, juntamente com o usuário final, buscam identificar os principais requisitos da missão, tais como desempenho esperado, confiabilidade e vida útil do satélite.

Como resultado, diferentes conceitos são identificados são expostos aos financiadores e consolidados com o documento denominado “Termo de Declaração da Missão” (Mission Statement). Essa fase conclui-se com a Revisão de Definição da Missão (MDR) que verifica a adequação das especificações técnicas preliminares e a avaliação de aspectos relativos à organização do projecto.

  • Fase A – Análise de Viabilidade

 Nesta fase, continua a análise da viabilidade dos possíveis conceitos abordados da fase 0, através da identificação de restrições relativas à implementação do projecto, tais como: custos, cronogramas, organização, operação, manutenção, produção e descarte. Em particular, o risco associado a cada alternativa é estimado.

Esta fase é concluída com a Revisão Preliminar de Requisitos (PRR) que tem por objectivo a aceitação dos planos e confirma a viabilidade técnica dos conceitos do sistema.

  • Fase B – Definição do Projecto Preliminar

Nesta fase, é consolidada uma proposta para as configurações dos sistemas e operações, baseada nas soluções técnicas escolhidas. Dá-se início a fabricação do modelo de engenharia de equipamentos e subsistemas, de forma a demonstrar que a solução ao projecto atenda a todos os requisitos de funcionalidade e desempenho.

Nesta fase ocorre a Revisão de Requisitos do Sistema (SRR) e a fase se termina com a Revisão Preliminar do Desenho (PDR), que avalia o projecto preliminar do conceito de sistema.

  • Fase C – Definição Detalhada do Projecto

 É finalizado, nesta fase, de forma detalhada, o conceito do sistema e operações, incluindo os planos de fabricação, integração, interfaces e testes.

Nesta fase, os equipamentos e subsistemas, são submetidos a testes funcionais, térmicos e de compatibilidade electromagnética, de modo a demonstrar a viabilidade das soluções adoptadas ao projecto.

Esta fase se encerra com a Revisão Crítica do Desenho (CDR), que tem como objectivos principais avaliar as soluções do projecto através, dos testes realizados no Modelo de Engenharia, bem como o estado de qualificação dos processos críticos.

  • Fase D – Produção e Qualificação

Nesta fase, são efectuados testes e análises que procuram demonstrar a validação do produto final, incluindo a actualização da análise de riscos. Após a demonstração da existência de um modelo e de um conjunto de processos e procedimentos que permitam a sua reprodução, passa-se à fabricação, integração, testes, actualização e formação dos técnicos que irão operar o segmento espacial.

Todos os procedimentos de fabricação (processos, inspecções, etc…) são “definidos” nesta fase. Os procedimentos de fabricação após devidamente documentados e tendo a sua reprodutibilidade demonstrada são denominados de “qualificados”. O Modelo desenvolvido é submetido a testes funcionais de aceitação, onde é verificada a compatibilidade operacional entre os segmentos terrestre e espacial.

Nesta fase pode ocorrer a Revisão de Qualificação (QR) que tem por objectivo principal demonstrar que as soluções de engenharia e de fabricação resultam em um produto, que atende, aos requisitos definidos para o projecto e a Revisão da Prontidão para o 

Voo (FRR), culminando com a Revisão de Aceitação (AR) que tem como objectivo principal demonstrar que o Modelo de Voo encontra-se livre de problemas advindos de erros de mão-de-obra e de outras operações, e pronto para o uso especificado.

  • Fase E – Operação

Nesta fase, ocorrem actividades de preparação para o lançamento, inserção em órbita e procedimentos iniciais para a operação do satélite. São realizadas todas as verificações pertinentes às actividades de comissionamento, operação em órbita, bem como as actividades do segmento terrestre, de forma a garantir que o segmento espacial cumpra com as necessidades e requisitos inicialmente estabelecidos.

  • Fase F – Fim de Vida Útil

Nesta fase são implementados planos para o descarte do satélite.

  1. Ciclo de vida do Projecto ANGOSAT-2

De formas a produzir os entregáveis do projecto é necessário que o ciclo de vida seja executado. O ciclo de vida de um projecto pode abranger da fase de iniciação à fase de encerramento e pode envolver algumas etapas adicionais ou reduzidas, variando de sector para sector.

Para efeitos de clarificação no projecto ANGOSAT-2 é importante fazer o seguinte paralelismo:

  • Segmento Espacial – Satélite ANGOSAT-2;
  • Segmento Terrestre – Centro de Controlo e Missão de satélites (MCC).

O ciclo de vida do Projecto ANGOSAT-2 é integrado pelas seguintes metas [4]:

Reunião Inicial (Kick-off) – Esta reunião é realizada para apresentação da visão geral da missão, dos requisitos gerais do satélite e do MCC, cronogramas de produção, visão geral dos serviços de lançamento, equipas de fornecedores e subcontratados, efectivando assim a assinatura do contracto.

Revisão Preliminar do Desenho (PDR) – Tem como objectivo principal avaliar os conceitos preliminares dos subsistemas, do plano de formação, procedimentos de operações e controlo de satélite.

Revisão Preliminar de Operações (POR) – Tem como objectivo avaliar os planos de implementação, fornecimento e entrega dos produtos do segmento terrestre, incluindo o simulador de satélite, o plano de operações e procedimentos.

Revisão Crítica do Desenho (CDR) – Tem como objectivo analisar a integridade do projecto detalhado e do plano para o início da fabricação e teste dos equipamentos do satélite. De formas a garantir o cumprimento dos objectivos da missão, o fornecedor deve conduzir o CDR, desde o nível dos equipamentos até o nível dos sistemas.

Revisão do Desenho da Missão (MDR) – Tem como objectivo analisar todos os aspectos da missão do satélite, incluindo uma visão geral do plano da missão.

Revisão Crítica de Operações (COR) – Tem como objectivo abordar o estado das entregas dos itens identificados no POR, bem como incluir uma revisão de todas as entregas e operações programadas.

Revisão Final de Operações (FOR) – Tem como objectivo analisar todas as modificações feitas no MCC para actualização de toda a documentação e dados, surgidos após a realização do COR.

Revisão de Prontidão de Teste do Satélite (TRR) – Tem como objectivo garantir a aceitabilidade dos seguintes itens antes do início do teste de qualquer equipamento, subsistema ou sistema do satélite: procedimentos de teste, condições ambientais e do cronograma, e os critérios de aprovação ou reprovação do teste. 

Revisão de Aceitação dos Sistemas (SCSAR) – Tem como objectivo garantir a aceitabilidade dos seguintes itens antes do início do teste de qualquer equipamento, subsistema ou sistema do satélite: procedimentos de teste, condições ambientais e do cronograma, e os critérios de aprovação ou reprovação do teste.

Revisão de Aceitação dos Sistemas (SCSAR) – Tem como objectivo a apresentação formal de todos os dados dos testes, anomalias e isenções em relação às especificações para mostrar a prontidão para as operações e para a transferência da propriedade do MCC para a parte Angolana.

Revisão de Pré-embarque do Satélite (PSR) – Tem como objetivo principal avaliar a conclusão satisfatória de todas as verificações de desempenho do satélite antes de o transportar da sua base de integração e testes para o seu local de lançamento.

Revisão de Prontidão da Missão (MRR) – Esta revisão é realizada 2 semanas antes do lançamento de formas a garantir que a missão do satélite cumpre com os requisitos identificados no início da missão.

Revisão de Prontidão do Satélite (SRR) – Esta revisão é realizada após a conclusão dos testes no local de lançamento, de formas a preparar o satélite e garantir que o mesmo está pronto para ser abastecido com o respectivo combustível.

Revisão de Prontidão do Lançamento (LRR) – Esta revisão é realizada com o objectivo de verificar as devidas condições de lançamento do veículo de lançamento, nos segmentos espacial e terrestre.

Revisão de Aceitação do Satélite (SAR) – Esta revisão é feita após o lançamento do satélite e na conclusão dos testes em órbita, com o objectivo de se apresentar formalmente os resultados dos testes em órbita, anomalias e isenções de especificações para a transferência da propriedade do satélite do fornecedor para a parte Angolana.

Operação em órbita durante um ano – Após a realização do SAR, procede a fase de operação do satélite sob supervisão do fornecedor do satélite durante um ano. A posterior, a operação do satélite é de inteira responsabilidade da parte Angolana.


Figura 2 – Fases e Metas do Projecto Angosat-2.

Essas metas têm como objectivo fornecer visibilidade e controlo e progresso do projecto de construção e colocação em órbita do satélite.

  1. Conclusão

Para o sucesso de um projecto de sistemas espaciais é imperioso a adopção de plano de gestão claramente definido, seguindo as boas práticas de padrões internacionalmente reconhecidos, redimensionando-o de acordo as necessidades e realidade do projecto.

O acompanhamento e execução de revisões entre o fornecedor e o cliente ao longo das diferentes fases do ciclo de vida de um projecto, garantem a realização de acções correctivas ou preventivas em face de eventuais deficiências, garantindo assim a integridade do objectivo inicial da missão.

Referências bibliográficas:

[1] Project Managemente Institute (PMI), Um Guia do Conhecimento em Gestão de Projetos (Guia PMBOK Sexta Edição), Newtown Square: Project Managemente Institute, Inc, 2017.

[2] I. d. S. Yassuda e L. F. Perondi, “ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A GESTA?O DE PROJETOS NO SETOR ESPACIAL CONFORME O PADRA?O ECSS E PROJETOS REALIZADOS PELO INPE,” [Online]. Available: http://mtc-m16d.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-m19/2011/03.03.14.59.46/doc/03.03.14.59.46.pdf. [Acedido em 18 Agosto 2020].

[3] European Cooperation for Space Satandardization (ECSS), ECSS-M-ST10C Rev.1 Space Project Management: Project Planning and Implementation, E. R. a. S. Division, Ed., Noordwijk, 2009.

[4] Contrato de Criação de um Sistema Espacial de Satélite de Comunicação e Transmissão Para a República de Angola,” 2009.

[5] International Organization for Project Management (IO4PM), “Project Management Revealed : Training Book 2nd

Autor:

Eng. Daniel Kupeia

Especialista Sénior da Área de Gestão de projectos do GGPEN