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Cadeia de valor nos negócios da comunicação via satélite
Até então, o conceito de cadeia de valor atingiu outras dimensões, e passou a ser usado em toda esfera empresarial, bem como para definir todos os participantes que estão envolvidos num determinado sector industrial. Deste modo, neste artigo, falaremos da cadeia de valor, para entendermos como funciona o negócio de satélites, interdependência entre as partes para se entregar a comunicação via satélite até ao usuário final.
Quando em 1985 Michael Porter apresentou o conceito de cadeia de valor na gestão dos negócios empresariais em seu livro vantagem competitiva, (do Inglês competive advantage), o autor fez referência do conjunto de pequenos detalhes nas actividades de cada parte constituinte da empresa, que agregam valor, desde os fornecedores até a venda e distribuição final dos produtos e serviços ao usuário final.[1]
DE QUEM É A RESPONSABLIDADE DE LEVAR OS SERVIÇOS DE SATÉLITE AO USUÁRIO FINAL?
Quando olhamos para o mercado e observamos o negócio de satélite, com foco concretamente só na secção dos satélites de telecomunicações, notamos uma cadeia de valor, envolvendo todas partes que cooperam neste ecossistema, que se divide essencialmente em três grandes seguimentos (pode encontrar outras classificações): o seguimento ascendente (do inglês upstream) que lida com o fabrico e os serviços de lançamento de satélites, o seguimento intermédio (do inglês midstream) que lida com a operacionalização do satélite, e o seguimento descendente (do inglês downstream) que lida com a aplicação e venda de serviços, os equipamentos terrestres e arrendamento. [2]
Diferente da economia centralizada, a economia de mercado oferece um panorama de oportunidades, onde diferentes empresas, excelentemente especializadas, podem actuar em qualquer um dos segmentos ao longo da indústria espacial descrito acima, gerando um fluxo monetário, que faz alavancar a economia espacial internacionalmente.
Para ter uma ideia, na parte ascendente incluem as seguintes actividades: desenho, concepção, fabrico, integração, testagem (as vezes até de componentes individuais) e leva 2 – 3 anos para concluir. Após concluído, é subcontratada uma empresa especializada que faça o lançamento e coloque em órbita. Posto em órbita é entregue ao contratante e operacionalizado, até a vida útil do satélite (ver o artigo sobre as actualizações do Angosat-2 em nossa página web), isto no seguimento intermédio que é onde se encontra o GGPEN.
No seguimento descendente: uma vez lançado e após término com sucesso dos testes em órbita, acontece o processo de entrega do satélite conhecido na indústria como handeover que significa passagem ou entrega do satélite. A partir deste momento começa a fase comercial com o processo de aluguer dos repetidores e a venda de capacidades, isto é largura de banda medidos em MHz. É justamente aqui, onde entram as empresas que levam o sinal para prover serviços aos usuários finais.
As operadoras de comunicação móvel celular e fixa, provedores e distribuidores de TV, rádio e internet, fazem parte do seguimento descendente (downstream) e são elas as responsáveis de garantir a conexão dos usuários finais aos serviços de comunicação via satélite, através de antenas VSATs (do inglês, Very Small Aperture Terminal) e outros sistemas afins.
O PARADIGMA ANGOLANO
A nível mundial, os investimentos para começar um negócio em telecomunicações são elevados, isto é, na ordem de milhões de dólares [3]. As empresas e os Estados que o fazem, investem em suas próprias infra-estruturas de redes locais, conectadas com fibras e/ou satélites para garantir a extensão da conectividade da última milha local com a rede mundial.
Nas capitais de províncias as fibras ópticas e microondas são as infra-estruturas mais adequadas, sendo a comunicação via satélite como sistema secundário ou para situações de emergências. Contudo, nas regiões mais remotas onde são inexistentes ou não se justificam os investimentos em fibra óptica ou links de rádio, é recomendada a comunicação via satélite como sistema primário.
Dito isto, estamos a querer dizer que não é possível e prático só com a comunicação via satélite ligar todos os serviços a nível de municípios e comunas do país, mas sim termos o satélite Angosat-2 como mais uma infra-estrutura complementar de todo um sistema nacional de telecomunicações com o satélite.
Numa primeira instância o Angosat-2 está a servir para a expansão do sinal de comunicação à sectores prioritários tais como escolas, hospitais, serviços da administração do Estado, defesa e segurança, conectando assim um bom número de instituições, isto através das empresas do sector tal como vimos nos diferentes seguimentos.
Relativamente aos serviços de telecomunicações para usuários finais com recurso ao Angosat-2, serão disponibilizados pelas empresas do sector, que desde Fevereiro do corrente ano começaram o processo de adesão, testes e implementação paulatina dos serviços do Angosat-2.
O GGPEN, como órgão do Estado para a implementação das políticas públicas relacionadas com o espaço, faz parte do seguimento intermédio (midstream) de operacionalização de satélite, isto é, trata de lidar com todas as questões de operacionalização do satélite Angosat-2 no Centro de Controlo e Missão da Funda ao longo do tempo de vida útil, disponibilizando capacidades em Megahertz (MHz) em moeda nacional a preços competitivos e para todo o território nacional e internacional, fomentando o interesse das empresas do sector a conectarem-se a este grande activo do Estado angolano para a disponibilização de serviços aos usuários finais e alargamento das suas redes no âmbito regional, tornando-as mais lucrativas e competitivas.
REFERÊNCIAS
- Michael Porter, Competitive Advantage: Creating and Sustaining Superior Performance.
- https://space-economy.esa.int/article/34/measuring-the-space-economy.
- https://dgtlinfra.com/how-much-does-it-cost-to-build-a-cell-tower/
Hugo Mateus
Departamento de Estudo e Mercados.
Mestre em serviços e Aplicações espaciais, pelo Instituto ISAE-SUPAERO, França.
Mestre em Sistemas de Telecomunicações e Multicanais, pela universidade RSREU, Rússia.
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